segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Cão idoso cria nova especialidade veterinária


Não foi só a expectativa de vida do brasileiro que melhorou, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maior atenção e o crescente cuidado com os animais de estimação levaram ao aumento na esperança de vida de cães, que hoje vivem em média três anos a mais que há 15 anos. A afirmação é do consultor técnico da empresa Royal Canin do Brasil, René Rodrigues Junior, um dos 5 mil veterinários que participaram do 4º Encontro Científico Internacional do setor, com o tema O Cão Geriátrico. Uma das principais discussões no congresso foi o impacto do envelhecimento no diagnóstico de cães idosos, uma demanda cada vez maior nas clínicas e que deu origem a uma nova especialidade - a medicina veterinária geriátrica.


"Hoje, temos laboratórios e centros de diagnóstico exclusivos para a medicina veterinária; com isso, passamos a ter uma segurança maior nos diagnósticos", considera René, que também identifica a melhoria na qualidade de alimentos e remédios para cachorros como fatores cruciais para o avanço da expectativa de vida dos bichos. "Esse aumento ocorre, principalmente, com cães que possuem maior atenção e cuidados. São cães domésticos que têm uma melhor condição de vida devido à proximidade com seus proprietários", avalia. A veterinária Maria Anete Lallo, co-autora do único estudo sobre expectativa de vida de cães no Brasil, realizado na Grande São Paulo, observa que, hoje, a medicina veterinária possui aparelhos para diagnósticos muito requintados. "Exames que ajudam a fazer diagnósticos rápidos ajudam no tratamento. Isso mudou muito o perfil da medicina veterinária", comemora.

Esse novo ?perfil?, acredita Maria Anete, é beneficiado pela evolução na ciência, que abriu campo para todas as especialidades na medicina dos animais - de dermatologia a oncologia. Assim também, as especializações em pediatria e geriatria tornam-se realidade para os donos de cachorros dispostos a dar a atenção aos bichos. "A área está se tornando uma especialidade", considera, porque "existe uma demanda". Não à toa, de olho nessa procura, a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais (Anfal Pet) prevê um rendimento de US$ 3,3 bilhões este ano para o mercado de pet shop.

Vacinação

Além da medicina preventiva, qualidade da comida e novos medicamentos, a vacinação também é um fator importante para a melhoria da expectativa de vida desses animais. Apesar disso, tanto para Maria Anete quanto para o veterinário Eduardo Bondan, que também participou da pesquisa, a prática de imunização no Brasil, ainda restrita, atinge números muito inferiores quando comparada a países europeus e aos Estados Unidos. Como este é o primeiro censo sobre esses animais, não é possível determinar ainda, cientificamente, o aumento na esperança de vida.

"Clinicamente, dá para observar que eles estão vivendo mais", afirma a médica veterinária, no entanto. Mas, considera Bondan, essa percepção é "empírica". Os dois afirmam que a principal causa de morte precoce entre cães no País são as doenças infecciosas, que poderiam ser evitadas com uma política de vacinação mais forte e consciente. "Tem vacina, então, é possível prevenir imunizando o animal por toda a vida", afirma Maria Anete. Ela avalia, entretanto, que, o Brasil precisa adotar um esquema de vacinação que contribua para diminuir o índice de mortalidade.

Envelhecimento

Com o envelhecimento, o cão passa a se comportar de maneira diferente, ficando mais quieto, com menos disposição e paciência e, algumas vezes, mais intolerante. No aspecto biológico, o animal idoso passa a ter maior dificuldade digestiva e perde, consideravelmente, a capacidade olfativa. Assim, são tomados pela indústria a alguns cuidados com alimentação, que adaptam a consistência do produto para facilitar a digestão e modificam os níveis de minerais. O fósforo, por exemplo, é reduzido para prevenir um quadro de insuficiência renal. Além disso, a ração é mais apetitosa para suprir a natural diminuição do olfato.

O cuidado maior com o animal de estimação, afirma o consultor técnico da Royal Canin, deve começar na maturidade, que varia entre 4 anos para cães maiores e 8 para os pequenos. Com a idade, segundo René, os cães tendem a desenvolver doenças renais, ósseas, hepáticas e articulares, além de câncer e diabetes. "Infelizmente, ainda não há, de maneira mais expressiva, uma conscientização quanto à prevenção das doenças", lamenta o consultor técnico. "Com isso, os tratamentos tornam-se mais comuns no dia-a-dia da consulta geriátrica." Alimentação adequada, consultas e exames clínicos de rotina e atenção a mudanças no comportamento do animal são cuidados que o especialista recomenda a donos de cães idosos.

"Prevenção é importante", avalia a veterinária Maria Anete. "Não dá pra evitar exatamente a doença, mas dá pra evitar que ele fique gordo, que faça atividades regularmente. O tratamento precoce é fundamental", afirma. A principal patologia que acomete cães idosos, segundo a especialista, é o câncer, que é hoje a segunda causa de morte entre os caninos no Brasil.

Para um envelhecimento saudável, o consultor da Royal Canin atenta para a importância de exames periódicos - semestrais, anuais, ou conforme recomendação do veterinário. Caso o bicho já apresente sintomas de enfermidades comuns a cães velhos, os tratamentos são específicos, e é recomendável procurar um especialista. Maria Anete indica que, a partir de 6 ou 7 anos, dependendo do porte, o criador procure o veterinário para acompanhamento ao menos a cada seis meses e se preocupe com a vacinação necessária para evitar a morte precoce do animal.

Fonte: Agencia Estado

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