Batizar o cachorro com nome de gente pode render constrangimentos, situações engraçadas e até problemas mais sérios para o dono
A biomédica Renata Vianna, 35, estava se arriscando demais quando batizou sua yorkshire, quatro anos, de Mariazinha. "Esse é o nome de verdade da minha cachorra e, na época, eu não conhecia ninguém próximo nem com o nome de Maria", conta. Por se tratar de um dos nomes mais comuns no Brasil, não demorou muito para ela encontrar uma.
Ao se mudar para o seu atual endereço, descobriu que uma das vizinhas era conhecida por dona Mariazinha. Passou a torcer para não se deparar com a senhora pelos corredores quando estivesse passeando com sua xará. Renata ainda deu uma volta na história na primeira vez que a tal senhora perguntou o nome da cadela. "Marizinha", respondeu, gaguejando, enquanto o porteiro tentava corrigir e ela o mandava ficar quieto.
Tempos depois, a vizinha havia esquecido o nome da cadelinha e perguntou de novo. "Ela tem o meu nome?", perguntou surpresa Maria Nentez Alvim, idade não revelada. Sem graça, a biomédica foi logo se desculpando. "Que honra", reagiu a senhora, para surpresa geral. Agora, todas as vezes em que a Mariazinha pessoa encontra a Mariazinha cachorra, ela cumprimenta a yorkshire: "Como vai, xará?". Nem sempre a "homenagem" é vista com humor.
As confusões com nomes de bicho e de gente já renderam boas brigas. Uma delas também entre vizinhos de um bairro em Santo André. Tudo começou quando um filhote de rua, tomado pela sarna, foi adotado pelo dono de um restaurante. Depois de cuidar das feridas do animal, os funcionários acabaram por batizá-lo de Vitório. Saudável, o cachorro foi doado para a mãe do proprietário. Ninguém podia imaginar o que o singelo nome iria causar.
"Um dia parou uma viatura na frente de casa com uma intimação para o meu filho", lembra a aposentada Claudete Rossetto, 71, dona oficial de Vitório, hoje com nove anos. "O policial viu o cachorro e disse que estavam lá por causa dele." Um vizinho tinha dado queixa por conta de ser negro e do bicho, que tem pêlo preto, ter o mesmo nome que ele.
A denúncia de "racismo" aconteceu 15 dias depois de Vitório chegar à casa de dona Claudete, que hoje se dá bem com o vizinho homônimo de seu cão. "Às vezes, até compro ração para a cachorra dele, que também tem nome de gente e se chama Kely".
A recomendação do delegado na época continua sendo seguida por toda a família, seja por hábito ou por precaução. Sempre que estão na rua ou precisam gritar para atrair a atenção do cachorro, não o chamam pelo nome completo. O jeito é apelar para o apelido e chamá-lo de "Vi".Teve até uma tentativa de proibir nomes próprios, prenomes e sobrenomes em animais de estimação. Em outubro de 2004, o então deputado Pastor Reinaldo (PTB-RS) apresentou projeto ao Congresso Nacional prevendo pena de prestação de serviços comunitários e multa para quem infringisse a lei. Não deu em nada. A proposta foi arquivada em novembro do mesmo ano.
Na falta de legislação, o que acaba imperando é o gosto pessoal. Ao escolher uma alcunha normalmente "humana", o dono está apenas se arriscando -fortemente, diga-se- a passar por situações no mínimo constrangedoras. Para quem resolveu correr o risco, o jeito é torcer para que todos os homônimos de cães adorem animais. E, como dona Mariazinha, se considerem homenageados em vez de ofendidos.
Fonte: Revista da Folha
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